segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A Madeira na Obra de Ary dos Santos


José Carlos Ary dos Santos, descendente da alta burguesia da capital e neto duma aristocrata, nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1936 e com apenas 47 anos de idade – fragilizado e amargurado, minado pelo álcool e pela doença – ali faleceu, em 18 de Janeiro de 1984, poucos meses antes do dia funesto em que também perecera o seu grande amigo Adriano Correia de Oliveira, outro generoso cantor e poeta militante, à memória de quem Ary dos Santos dedicou um comovente soneto:

Nas tuas mãos tomaste uma guitarra.
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra
O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.

O teu coração de oiro veio do Douro
num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.

Resta de ti a ilha de um Tesouro
A jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.

Indomável defensor do povo explorado e oprimido do seu País, e incessantemente solidário com os mais desprotegidos, José Carlos Ary dos Santos ficou conhecido como o «Poeta Militante», tendo sido um dos maiores vates lusos do séc. XX, e um dos escritores que mais combateu a opressão, a ignorância e as desigualdades.
Em 1969, ano que considerou ter marcado de forma decisiva a sua vida, iniciou-se na actividade política ao filiar-se no Partido Comunista Português, participando activamente nas sessões de poesia do então intitulado «Canto Livre Perseguido».

Em 1952 – com apenas 15 anos de idade – publicou o primeiro livro de poesias intitulado ASAS; e desde então dedicou-se, continuadamente, à vida cultural e à intervenção política, em prol da democracia e do socialismo. Da sua brilhante obra poética destacamos LITÚRGIA do SANGUE editada em 1963; TEMPO da LENDA das AMENDOEIRAS (1964); ADEREÇOS e ENDEREÇOS (1965); INSOFRIMENTO in SOFRIMENTO (1969); FOTOS-GRAFIAS (1970); RESUMO (1971); AS PORTAS que ABRIL ABRIU (1975); SANGUE nas PALAVRAS (1978)) e POEMAS POLÍTICOS (1979).
Em prosa escreveu um livro de memórias intitulado «Estrada da Luz – Rua da Saudade», que ainda está inédito; tal como «As Palavras das Cantigas», onde pretendeu reunir as suas melhores composições dos últimos quinze anos.
Além de escritor, José Carlos Ary dos Santos, depois de sair de casa aos 16 anos e repudiar a família, actuou como paquete, vendedor de pastilhas e máquinas, explicador, estivador e escriturário, acabando por se notabilizar como um talentoso trabalhador publicitário, que realizou excelentes criações artísticas, que marcaram toda uma época, e que ainda hoje são bastante lembradas.
Deixou-nos igualmente textos teatrais, operetas e outros escritos de grande valor literário, na sua maior parte ainda inéditos; e que urge continuar a organizar, estudar e publicar.
E motivado pelo músico e compositor Nuno Nazareth Fernandes, Ary dos Santos tornou-se também muito popular por haver escrito mais de 600 canções e cantigas, que pelo seu desassombro e intenso lirismo são pérolas de arte e harmonia, mas também punhos, e cravos de Abril; escolhidas e cantadas pelos melhores artistas nacionais, desde Amália Rodrigues, Luísa Basto, Zeca Afonso, Simone Oliveira, Paulo de Carvalho, Carlos do Carmo, Fernando Tordo, Tonicha, José Fanha, Teresa Silva Carvalho, e tantos outros.
Em 2004, durante as comemorações dos vinte anos da morte do poeta, Simone de Oliveira, a voz da «Desfolhada», expressava de forma comovida: - «devíamos cantá-lo de todas as formas e sentidos. O meu eterno amigo da Rua da Saudade, que muito amou Lisboa, estará sempre presente na minha vida. As suas palavras continuam vivas, e se ele cá estivesse, andava tudo num desassossego».
Na mesma ocasião, Paulo de Carvalho lembrou que José Carlos Ary dos Santos «foi o grande poeta português das cantigas. E muitas não perderam a carga. Essa é a verdadeira revolução. É chegado o tempo de abandonar a música de elevador e de novo fazer da cantiga uma arma. Se o Ary fosse vivo voltaria a essas lutas, de certeza. E matéria não lhe faltaria»...
Carlos do Carmo, outro dos grandes cantores portugueses e um dos maiores amigos e camaradas do poeta, afirmou em «Fotobiografia», que Ary dos Santos «tinha esse grau de insubstituibilidade que resulta do facto de ser uma amálgama de personalidades numa só. (…) Tão presente, tão actuante por onde passava, usando a inteligência, a criatividade, um raro sentido de humor, onde também, em simultâneo, passavam com muita frequência os defeitos naturais do ser humano: a mentira e a mordacidade quase implacável, mas tudo isso só possibilitado àquelas personalidades permanentemente criativas, onde não é possível esperar um equilíbrio perfeito. (…)
«Quando falo num Zé Carlos insubstituível, não me refiro só a ao aspecto afectivo, à amizade, refiro-me igualmente ao lado profissional. (…) Dizia que era poeta e nada percebia de música, mas de facto ele era um músico excelente, pela capacidade que tinha de entender a harmonia das palavras nas canções. Existem paralelos curiosos: o António Vitorino de Almeida quando canta é de fugir… Como é possível um músico com aquele talento cantar assim! O Zé Carlos era também do mais desafinado que existia. No entanto interrogamo-nos, como é possível toda aquela desafinação permitir o encaixe da palavra com a sonoridade certa. Por isso digo que ele era efectivamente um grande músico».
E Natália Correia, no prefácio do livro «José Carlos dos Santos – As Palavras das Cantigas», editado, em 1989, pelas «Edições Avante», escreveu que a entrada de José Carlos Ary dos Santos no tumultuoso mundo da música popular «tornou-se inevitável pelo modo pessoal de estar na vida do grande poeta militante: uma entrega total, excessiva, a todas as coisas em que se empenhou; uma imensa necessidade de afecto disfarçada pela agressividade da sua maneira de estar em público, mas que era compensada - ou procurava compensar – pelos aplausos fáceis e contínuos da música chamada ligeira e nas inúmeras intervenções públicas do poeta».
Deste modo, não temos a mínima dúvida em afirmar, que devido à imensa autenticidade, e sobretudo pela sua fulgurante genialidade e talento; José Carlos Ary dos Santos (e quem cantou as suas cantigas), além de ter enfrentado, corajosamente, os constrangimentos do regime fascista, encetou uma profunda mudança na música ligeira portuguesa, e foi um dos intelectuais e artistas portugueses que mais lutaram para recompor e proporcionar maior qualidade ao chamado «nacional-cancenotismo».
Como mero exemplo, escutemos excertos de duas ou três dessas centenas de canções e cantigas escritas pelo poeta: Começamos por «Menina», que foi cantada por Tonicha:

Menina de olhar sereno
raiando pela manhã
de seio duro e pequeno
num coletinho de lã.
Menina cheirando a feno
casado com hortelã. (…)

Menina de corpo inteiro
com tranças de madrugada
que se levanta primeiro
do que a terra alvoroçada. (…)

E também «Cavalo à Solta», interpretada por Fernando Tordo:

Minha laranja amarga e doce
meu poema
Feita de gomos de saudade
minha pena
Pesada e leve
Secreta e pura
Minha passagem para o breve breve
instante da loucura. (…)

Minha alegria
minha amargura
minha coragem
de correr contra a ternura. (…)

Por último a célebre «Tourada», cantada por Fernando Tordo, que apesar de ter sido uma canção muito perseguida pela censura e pelos esbirros do regime, que não toleravam os motejos e a ironia, acabaria por ser seleccionada para representar Portugal no «Festival da Eurovisão», em 1973:

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro as feras.

Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
esperas.

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.

Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.

Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo…

Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro aos milhões.

E diz o inteligente
que acabaram as canções.

Ainda antes da conquista da liberdade alcançada com a revolução de 25 de Abril de 1974, José Carlos Ary dos Santos anotava com alguma ironia e mágoa, que por defender a justiça social e ser um poeta de combate, muitos cúmplices da ditadura e alguns invejosos o abocanhavam.
No entanto, o poeta «morrendo aos poucos de ternura», nunca perdeu a esperança transformadora, como sintetizou neste excelente «Auto-Retrato»:

Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.

Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.

Nos olhos uma flor de hortelã
Que é verde como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura

Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.

Com frontalidade e muito ímpeto, Ary dos Santos difundia a ideia que o artista além de autêntico e original, devia amar o seu povo e ser sempre solidário para com os mais desprotegidos:

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte
faz devorar em jejum.
Original é o poeta
Que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber e compreender
o que é o choro e o riso.(…)

Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
Como se fizesse amor.

E, convictamente, proclamava que mesmo que tivesse que pagar um preço muito elevado, faria da sua obra um libelo de verdade, amor, e fraternidade, e um grito para a profunda transformação da sociedade:

Versos? Paguei-os. Alegria e raiva.
As palavras por vezes impotentes
outras vezes escorrendo sangue e raiva
ao morderem a vida com os dentes.

Poesia que és um dia minha noiva
com seios de palavras complacentes.
Poesia que outras vezes grita e uiva
fêmea capaz de fecundar sementes.

Poesia minha amiga minha irmã
mulher da minha vida que inventei
para fazermos filhos amanhã.

Poesia minha força meu castigo
Meu incesto tão puro que não sei
Se é verdade que faço amor contigo.

Corajosamente, e com um timbre muito pessoal e humano, o poeta afirmava que nada nem ninguém teria força para calar os seus anseios de justiça e liberdade, pois tinha com ele a razão, e a força dos humilhados e oprimidos:

Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo
e eu não posso dizer eu estou de pé.
De pé como poeta ou um cavalo
De pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo
A não ser os que eu amo os que eu entendo.
Os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima
Porque é de baixo que me vem acima
A força do lugar que for o meu.

E sempre com grande firmeza e afectividade, José Carlos Ary dos Santos reafirmava a solidariedade para com o povo do seu País:

Revejo tudo e redigo
meu Camarada e Amigo.
Meu irmão suando pão
sem casa mas com razão.
Revejo tudo e redigo
meu camarada e amigo

As canções que trago prenhas
de ternura pelos outros
saem das minhas entranhas
como um rebanho de potros.(…)
Homem não pode ser caça
e a poesia tem de ser
como um cavalo que passa.

É por dentro desta selva
desta raiva deste grito
desta toada que vem
dos pulmões do infinito
que em todos vejo ninguém
revejo tudo e redigo:
Meu camarada e amigo. (…)

E rematava, com muita convicção e firmeza:

É da torre mais alta do meu pranto
que eu canto este meu sangue este meu povo.
Dessa torre maior em que apenas sou grande
por me cantar de novo.

Cantar como quem despe a ganga da tristeza
e põe a nu a espádua da saudade.
Chama que nasce e cresce e vive e morre acesa
Em plena liberdade.

Na sua militância de humanista assumido, Ary dos Santos nunca vacilou, não se alienou, nem se deixou abater pelo desencanto ou pelo conformismo. Firme como uma rocha, sempre esteve ao lado dos deserdados e dos que lutavam pela Liberdade e a Solidariedade, sendo uma arma apontada contra as injustiças, e a voz dos que não tinham voz:

Herói é quem num muro branco inscreve
o fogo da palavra que liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
E morre devagar de morte certa. (…)

Herói é quem morrendo perfilado
não é santo nem mártir nem soldado
mas apenas por último indefeso.

Herói é quem tombando apavorado
Dá o sangue ao futuro e fica ileso
Pois lutando apagado morre aceso.

O poeta também cantou com muita ternura a heróica luta dos camponeses e de todo o povo oprimido e explorado. Assim, ainda antes da revolução democrática de 25 de Abril, lembrou, emocionado, a alentejana «Catarina Eufémia – a Soror Saudade», sua corajosa «Camarada Viva», assassinada pelas balas da ditadura:

Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.

Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita
encarnada que ponho no cabelo.

Trança de trigo roxo Catarina
morrendo alpendurada
do alto duma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.

Meu amor. Minha espiga. Meu herói.
Meu Homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.

E já depois da Revolução dos Cravos, Ary dos Santos pôde dar larga à sua justificada fúria contra a infame matilha que assassinou e varou, friamente, centenas de corajosos e destemidos comunistas e alguns outros antifascistas:

Vararam-te no corpo e não na força
e não importa o nome de quem eras
naquela tarde foste apenas corça
indefesa morrendo às mãos de feras.

Mas feras é demais. Apenas hienas
tão pútridas tão fétidas tão cães
que na sombra farejam as algemas
do nome morto que tu tens.

Morreste às mãos da tarde mas foi cedo.
Morreste porque não às mãos do medo
que a todos pôs calados e cativos.

Por essa tarde havemos de vingar-te.
Por essa morte havemos de cantar-te.
Para nós não há mortos só há vivos.

Com vivacidade, por vezes apaixonada e endiabrada, era impiedoso contra os falsos intelectuais, os maldizentes e os inimigos da democracia e da justiça:

Por existir me cegam,
me julgam,
me condenam,
me esfacelam.
Por me sonhar em vez de ser me insultam.
Por não dormir me culpam
e me dão o silêncio por carrasco
e a solidão por cela.
Por lhes falar, proíbem-me as palavras
por lhes doer, censuram-me o desejo
marcam-me o destino a vergastadas. (…)

Passo a passo os encontro no caminho
mas eu sigo sozinho!
Dono dos ventos que me arremessaram
senhor dos tempos que me destruíram
herói dos homens que me derrubaram
macho das coisas que me possuíram(...)

Sou eu quem de noite lhes perturba o sono
lhes frustra o amor, lhes aperta a garganta
sou eu que os enforco numa corda de sonho
que apodrece e cai mal o sol se levanta. (…)

Sou eu que partindo aos poucos lhes deixo
uma herança de pragas e animais nocivos.
Sou eu que morrendo lhes segredo o horror
De serem inúteis e ficarem vivos.

E para zurzir com mais eficiência os «merdosos» e bafientos detractores da verdade e do humanismo, que pululavam na sarjeta da capital, Ary dos Santos invocou Bocage, com quem, aliás, se identificava:

Meu sacana de versos! Meu vadio.
Fazes falta ao Rossio. Falta ao Nicola.
Lisboa é uma sarjeta. É um vazio
e é raro o poeta que entre nós faz escola.

Mastigam ruminando o desafio
são uns merdosos que nos pedem esmola.
Aos vinte anos cheiram a bafio
têm joanetes culturais na tola.

Que diria Camões nosso padrinho
ou o primo Fernando que acarinho
Como Pessoa viva à cabeceira?

O que me vale é que não estou sozinho
ainda se encontram alguns pés de linho
crescendo não sei como na estrumeira.

E como todos os que, com desassombro, enfrentam os reaccionários, os pseudo- intelectuais, os covardes e os medíocres; muitas vezes Ary dos Santos foi odiado e ofendido. No entanto, satírico e altivo, ripostava-lhes com destemor e firmeza.

Poeta quase cloaca
que nos entope o nariz
poesia vitelo vaca
a marrar neste país
poeta que põe a laca
da gala do Amadis.
Poesia que nos ataca
mas que o povo contradiz
poeta que nem á faca
corta o mal pela raiz.

Morreste aos poucos de gota
de cirrose nos acentos
prostatite bancarrota
de apaixonados lamentos
viveste a fazer batota
em todos os teus momentos
e agora morres na lota
dos peixes mais peçonhentos.

Tens funerais nacionais
orquídeas plastificadas
carpideiras generais
viúvas apaixonadas
e nos cartões de visita
barrados por tarja escura
escreves em letra catita
Secretário da Cultura. (…)

Tenório atum tenor
anchova dos dicionários
- A linda palavra amor
já a abriram os operários.
Poesia de encher a pança
caviar do romantismo
- A linda palavra esperança
já a disse o Comunismo.

Não atendeis ao que eu digo?
Pensais talvez que me vendo?
Que ao escrever meu amigo
não sinto as letras doendo?
Sei que sou vosso castigo
apenas porque escrevendo
quanto mais vida consigo
mais a morte vos desvendo.

Pois vocês estão ferrugentos
são bicos de papagaios
bócios de ócios desalentos
menstro e bosta de cipaios.


São vocês os excrementos
que sujam todos os Maios.
os poetas desatentos
são negus-moniz-lacaios.

Vão com a corda ao pescoço
que torcem conforme o vento
e acabam só pele e osso
espantalhos do nosso tempo.

Arisco e apimentado, Ary dos Santos deixava bem claro, que não se calaria, nem se deixaria intimidar ou castrar:

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lâzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não! (…)

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa –
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança.
Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal –
mas que dizer da memória
de uma bomba napalm?
E o resto que pode ser
O poema dia a dia?
- um bisturi a crescer
nas coxas de um judia. (…)



Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não.


Boémio, avassalador, homossexual assumido, terno mas por vezes truculento, amante das tertúlias e da cavaqueira, menino crescido de alma grande e militante do Partido Comunista Português, ao qual doou toda a sua obra; José Carlos Ary dos Santos desfez muitos tabus, fez manguitos a todo o tipo de censuras, e cantou como nenhum outro a Liberdade, a Fraternidade e o Socialismo.
Numa entrevista que no «Diário» concedeu ao escritor Baptista Bastos, o poeta assumiu-se, sem subterfúgios: «Bebedor: com muito gosto. Truculento: é um estilo. Imprevisível: porque sou curioso. Arrebatado: porque tenho (dizem) alguma coragem». E acrescentou em tom de repto: «Progressista é um homem que sabe fazer futuro como quem sabe fazer amor»...
Noutro artigo também do «Diário» onde anunciava a morte do nosso poeta, Nuno Gomes dos Santos redigiu, comovido: «Morto que morre só, é negativo» escreveste e explicaste: «morrer é separar-se de ninguém/ e contudo com todos ficar vivo». Falavas do Redol, falamos nós de ti. Vê-se o Tejo daí. Tinha de ser. Aliás, foi como tu quiseste que fosse, a bandeira, nós todos, «operários, trabalhadores, mulheres, ardinas, pedreiros, jovens, cantores, camponeses e mineiros». Bonita casa é aquela que te fizemos, um canteiro.
«Sempre te digo uma coisa: não sei quantos mil dos que escreveram o maior poema que algum povo já escreveu ao seu poeta nunca leram versos, mas sabem da Poesia, a que tu lhe ensinaste. Bons alunos, Zé Carlos! Cheios de vivas na boca, quando ainda alguém se atrevia a pensar que era da morte que se tratava.
«As lágrimas foram sem querer, estávamos com pena de nós…
«Apenas te mudaste. Moras, finalmente, na Rua da Saudade, nome de um poema colectivo escrito não sei por quantos mil contigo, numa manhã em que o amor vergou a chuva, pelas ruas de Lisboa».
Naquela desconsolada ocasião José Saramago também escreveu, muito emocionado, no «Diário»: «O Ary dos Santos era um grande poeta. O Ary dos Santos não era um grande poeta. O Ary dos Santos não era grande, nem pequeno, era como de costume. O Ary do Santos um letrista de cantigas, um publicitário, um autor de «slogans», ou, explicadamente, um manipulador habilíssimo de palavras, em particular as mais simples, as directas, as capazes de vender, tocar ou convencer. O Ary dos Santos era um arrebatado, um estoira-vergas, um coração-ao-pé-da-boca, um bebedor de «gin», uma criança que cresceu e criança ficou, um energúmeno de comício. O Ary dos Santos morreu antes de velho, na hora em que o tempo lhe batia no ombro e lhe soprava os primeiros cabelos brancos. O Ary gostava de camisas de seda. O Ary dos Santos era comunista. O Ary dos Santos pediu que lhe pusessem uma bandeira em cima. O Ary dos Santos era bandeira de si mesmo.
«Há muito por onde escolher. Ele não se importa. Por mim, neste momento, escolho o que escolheram os milhares de pessoas que o acompanharam ao cemitério: aquele poeta que inventou uma voz, aquele poeta que, sem truques nem cálculos, sequer os da publicidade que sabia fazer para os outros, conseguiu ser amado por homens e mulheres como um filho, um irmão, ou um amigo. Para esse tanto bastou-lhe ser o poeta que foi e também a pessoa que era. Atraiu o amor, a estima, a admiração pelo contraditório caminho da sua entrega ao povo e da narcisista exibição da sua própria personalidade. Numa terra de narcisistas, poetas ou comuns, que por isso mesmo não raro concitam contra si atitudes de rejeição, porventura justificadas, o Ary dos Santos fez de tão máximo defeito a sua máxima arma. Arma desarmada. Porque o Ary que nós conhecemos, invejado, troçado, desprezado, que ria de tudo isso, sacudindo a cabeça leonina era, em qualquer canto desse quarto escuro onde nos fechamos nas horas más, um puto que esfregava os joelhos esfolados e engolia as lágrimas, heroizinho triste, e depois ia sentar-se a escrever versos, como quem escreve cartas, para a ternura, para o amor e a esperança. Versos que queriam ser uma voz, e o foram. (…)
O Ary dos Santos foi aonde as pessoas estavam, as mais distantes, as mais caladas. Prodígio não foi terem-no ouvido, prodígio foi ter havido em Portugal um poeta assim, tão simplesmente ingénuo, agressivo e cândido, orgulhoso como um demónio, e tão humilde que se lhe arrasavam os olhos de lágrimas quando um trabalhador lhe pedia licença para abraçá-lo. (…)
«O que ele fez foi viver a história do seu tempo e do seu país, com uma generosidade total, uma alegria talvez dolorosa, uma fraternidade explosiva. Não sei se isso chegou para fazer dele um grande poeta. Sei que bastou para fazer um ser humano admirável».
Por sua vez, intensamente comovida Natália Correia, afirmou em «Fotobiografia» que «a poesia de Ary dos Santos tinha, sob a sua retumbância, um travo de menino triste que andava a pedir amor a toda a gente e que se enraivecia quando lho negavam. E esta raiva era legítima porque ele, como a sua poesia era todo dádiva. Um vulcão de afectividade. Confesso que fui excessivamente dura com ele quando o vi desviar-se do caminho que então considerei a via nobre da sua poesia e que continuo a assinalar no seu livro «Adereços e Endereços», para enveredar por aquilo que na altura lhe verberei como publicismo poético. Mas ele tinha impaciência de se dar às multidões em poesia. Percebi depois que esse espectáculo era uma máscara de menino triste, para atrair o calor humano dos aplausos, para nessa efusão, se sentir arrebatado por uma vaga de amor. Não por acaso Maiakovsky era o seu modelo. Quantas vezes o invocou na sua argumentação contra a minha pouca indulgência para com o poema-panfleto. E esse arrebatamento maioakovsquiano era realmente a verdade da sua predestinação de poeta sôfrego da vida porque escassa em anos. De poeta toda a gente a cantar. Mixto de trovador e jogral. Bocagiano na língua de fora ao perliquitetes do «convenable». Junqueriano na caudalosa gestualidade herética. À Gomes Leal no dandismo da maldição com tubas revolucionárias. Comovido até ao grito de «poeta castrado não». Familiar dos poetas excessivos que transbordam do tal «abandono vigiado», o Ary «sabia» que não podia caber muito tempo na vida. Daí o trágico que se ouvia no fundo da sua gargalhada. Daí a sua avidez existencial. Daí mostrar-se tão possesso de vida que parecia nada a ter a ver com a morte. Mas, por estranha maquinação dos fados, são estes que a morte prefere. Porquê esse mistério»?
E com um bem alto e enternecido grito de «Que Viva Ary», Manuel Sequeira Amaro, no «Diário» rimou na despedida do poeta:

Podiamos detestá-lo,
Chamar-lhe os nomes mais vis.
Lãzudo, panfletário.
Pederasta, refilão...
Que fez somente o que quis
No seu viver temerário:
Poeta castrado, não!(…)

Fez da vida uma tourada
Para lidar marialvas;
Cravou ferros nas palavras,
Mais nomes foram gritados:
Vaca gorda, bosta imunda,
Boi manso de solidão…
Mas a verdade é mais funda:
Poeta castrado, não!

Foi agora a enterrar.
Voltou ao ventre da Mãe
( Mais calmo lugar de estar,
Poeta, a gente não tem).
Morre o corpo, fica a alma
Respirando nas palavras
- Porque a Poesia é eterna
Como o sonho e a razão –
Palavras livres, não escravas:
Poeta castrado, não!

Como já referimos, um intelectual com uma postura corajosa e humanista como a que José Carlos Ary dos Santos imprimiu à sua vida, granjeou-lhe muitos inimigos, que têm recorrido a todas as torpezas para apagar a sua memória, e para o diminuir com o rótulo de poeta maldito, arrebatado, quixotesco - louco combatente de causas perdidas e impossíveis.
Mas, no seio do seu partido, a editorial «Avante» publicou a totalidade da sua obra literária, e em todas as Festas do Avante, o poeta é sempre lembrado; para que continuem a desabrochar as sementes de luta e de justiça por ele lançadas à terra.
Por outro lado, a Caminho editou uma Fotobiografia da autoria do seu antigo colega de profissão Alberto Bemfeita – que é um notável roteiro do Homem, do Militante, do Poeta e do Publicitário, que foi Ary dos Santos.
Acresce que no vigésimo aniversário da sua morte, a Sociedade Portuguesa de Autores prestou-lhe homenagem; e para que jamais se deixe de cantá-lo, o Partido Comunista Português também assinalou os vinte anos da morte do escritor militante, lançando o maravilhoso vídeo - «As 25 canções de Abril».

José Carlos Ary dos Santos esteve pelo menos duas vezes na Madeira, em actividades políticas realizadas pelo Partido Comunista Português, de que era um esforçado militante. E impressionado pelos nossos mares, as nossas flores e pela magia da ilha, Ary dos Santos, escreveu a bonita canção Fado da Madeira, que foi musicada por José Luís Tinoco, e cantada por Carlos do Carmo:

Esta levada
de secura à minha beira
é água fria correndo
pelas veias da Madeira.
Esta levada
dos verdes olhos da mágoa
é uma ilha bordada
a chorar as penas de água.

Espadinha negro
aço de peixe a brilhar
mais a espetada com estilete
à português de alto-mar.
Vou no «pirata»
passear a Porto Santo
amar na areia de prata
o meu azul de quebranto.
São as orquídeas
que te enfeitam o decote
todas as flores ao despique
e a estrelícia a dar o mote.
É na cambraia
da ceia posta na mesa,
que esta aguardente e o mel
fazem esquecer a tristeza.
Mas na cambraia
do lençol que a gente arranca
quando o mar nos sabe a fel
o teu corpo é pomba branca.

Espadinha negro
aço de peixe a brilhar
mais a espetada com estilete
à português de alto-mar.
Sou pescador
do mar fundo da Madeira
sei prender o teu amor
no anzol da vida inteira.
Este meu fado
está tão cercado de mar
que é sempre um lugar fechado
até um barco chegar.
Amarro a ida
às cordas do verbo amar
é aqui a minha vida
sou Português do alto-mar.

E sabendo que o regime fascista tinha deportado centenas de democratas para o nosso arquipélago; e que após a «Revolução Democrática da Madeira de 1931», e da «Revolta Camponesa do Leite de 1936», numerosos madeirense sofreram o exílio em África, nomeadamente em Cabo Verde, onde muitos pereceram na «frigideira» do horrendo campo da morte do «Tarrafal»; em todos os comícios em que participou no Funchal, e onde tivemos o privilégio de estar ao seu lado; Ary dos Santos fazia questão de denunciar esses crimes, declamando um belo poema da sua autoria intitulado «Ao Cabo de Cabo Verde» :

Ao cabo de Cabo Verde
dobrado o cabo da guerra
quando o mar sabia a sede
e o sangue cheirava a guerra
acabou por ser mais forte
a esperança perseguida
porque aconteceu a morte
sem que acabasse a vida.

Ao cabo de Cabo Verde
no campo do Tarrafal
é que o futuro se ergue
verde-rubro Portugal
é que o passado se perde
na tumba colonial.
Ao cabo de Cabo Verde
não morreu o ideal.

Entre o chicote e a malária
entre a fome e as bilioses
os mártires da classe operária
recuperam suas vozes.
E vêem dizer aqui
Do cabo de Cabo Verde
que não morreram ali
porque a esperança nunca se perde. (…)

No campo do Tarrafal
no sítio da frigideira
hasteava Portugal
a sua maior bandeira. (…)

Do cabo de Cabo Verde
chegam tão vivos os mortos
que um monumento se ergue
para a cama dos seus corpos.
Pois se o sono é como o vento
Que motiva um golpe de asa
é a vida o monumento
dos que voltaram a casa.

Ainda hoje lembramos, com saudade, quanto nos enriqueceu a sua solidez e firmeza transformadora, e a forma espontânea e generosa com que – mesmo de copo na mão – falava sobre um futuro mais justo e digno, e se confiava aos mais simples e humildes, transmitindo-lhes os valores da luta, da solidariedade, da partilha e das grandes utopias dos amanhãs que cantam.
Em todos os comícios que realizou na Madeira, começava sempre as suas intervenções com um longo poema de homenagem à «Revolução dos Capitães», que restituiu a liberdade e a dignidade ao povo português.
Por esse entranhado amor ao 25 de Abril, a maior glória e o brasão que José Carlos Ary dos Santos acima de tudo mereceu, aquilo que, certamente, mais o orgulharia e enterneceria, era ter sabido que, pela vontade do povo que tanto amou, ganhou o direito de ser lembrado e invocado para todos os sempres como «O Poeta de Abril»!

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era um vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.(…)

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.


Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.(…)


Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre a côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão. (…)

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.
Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa. (…)

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
- pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
- é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa(…)
E o povo saiu à rua
Com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comemos do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
Soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão. (…)

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis(.)
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que d´espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxada
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse. (…)

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
q´este Abril se não cumprisse
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.
(…)

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe aqui dizer
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu !

E em consagração à luta dos seus camaradas pela libertação da Humanidade contra a opressão, a exploração, a ignorância e a pobreza, terminava sempre as suas acaloradas intervenções nos comícios madeirenses, com o seu poema A Bandeira Comunista:

Foi como se não bastasse
tudo quanto nos fizeram
como se não lhes chegasse
todo o sangue que beberam
como se o ódio fartasse
apenas os que sofreram
como se a luta de classe
não fosse dos que a moveram.
Foi como se as mãos partidas
ou as unhas arrancadas
fossem outras tantas vidas
outra vez incendiadas.

À voz de anticomunista
o Patrão surgiu de novo
e com a miséria à vista
tentou dividir o povo.
E falou à multidão
tal como estava previsto
usando sem ter razão
a falsa imagem de Cristo.
Pois quando o povo é cristão
Também luta a nosso lado
nós repartimos o pão
não temos o pão guardado.
Por isso quando os burgueses
nos quiserem destruir
encontram os portugueses
que souberam resistir.

E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista.

Para terminar e em jeito de singela mas sentida homenagem, estamos certos que apesar dos esconjuros de tantos néscios que por aí ainda pululam, enquanto houver portugueses solidários, humanistas e progressistas; o nosso poeta de Abril jamais será esquecido; e cada vez mais, as poesias e cantigas de José Carlos Ary dos Santos pulsarão nas ruas e nas praças de Portugal e da Madeira, ali onde ele tanto gostava de andar com elas, de braço dado,
JUNTO do POVO!







1 comentário:

  1. Oi, Rui

    Não conhecia o cantor Ary dos Santos, obrigado por me apresentar, curti muito. É um dos estilos musicais que aprecio, valeu.

    abs,

    Antonio Regis

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